10 de dezembro de 2022

Ciclos

 


    Decidi entregar meu coração nas mãos do tempo, decidi não mais sofrer e me martirizar esperando que alguém que eu amei muito volte me pedindo perdão. Todos os dias eu durmo e acordo pensando se o próximo dia vai ser aquele em que eu vou poder sorrir e sentir alívio por ter de volta na minha vida alguém que decidiu por conta própria sair dela.
    Por quase um ano eu fui o melhor que pude, amei incondicionalmente, me entreguei e me dediquei. Por várias vezes abri mão de mim mesma em prol de uma relação, priorizei uma pessoa e tornei ela o centro do meu mundo, vivendo sempre com a motivação de fazer tudo que estava ao meu alcance pra deixar o outro feliz.
    Descobri aí o meu erro, erramos quando priorizamos outra pessoa na nossa vida além de nós mesmos, erramos quando a vontade do outro se torna mais importante do que a nossa, erramos quando o bem estar de alguém vem em primeiro lugar. Erramos, principalmente, quando resolvemos colocar a nossa dor de lado somente pra manter determinada pessoa em nossas vidas.
    Doeu muito entender que aquilo não me fazia bem, ao contrário, me deixava triste, me deixava solitária mesmo com a pessoa do meu lado e me deixava sempre em segundo plano na minha própria história. A dor tem o poder de mudar o mais voraz dos sentimentos porque não importa qual seja ele, quando dói, dói com muita intensidade para mostrar onde estão nossos erros.
    Perdoar é lindo, acreditar na mudança do outro é incrível, mas se perdoar, se impulsionar a mudar e se tornar a sua prioridade é o passo mais doloroso, difícil e maravilhoso que podemos dar em nossas vidas. O perdão mostra quem nós somos, mas nunca é motivo para passar por cima de todas as dores e aceitar reviver uma situação já sabendo qual será o resultado.
    No meu coração ainda tem muito amor, no meu coração tem também o perdão que direcionei a alguém que me machucou muito. Mas agora, acima de tudo, eu direciono esse perdão a mim mesma, eu me abraço, me cuido e me curo de todas as feridas que foram feitas na minha alma sem que eu merecesse. O processo nunca foi, nem será, fácil, não quando somos seres sensíveis de grande entrega e dedicação.
    No mundo existem pouquíssimas pessoas que tem a alma translúcida que transborda coragem para se entregar e mesmo sabendo qual será o resultado dar o seu melhor para depois, no final, mais uma vez ter que se fechar e se curar, para então, recomeçar tudo novamente. Minha alma e meu coração são lindos, nunca vou me esquecer disso, mas também não vou me esquecer que mereço alguém com uma alma idêntica a minha para só então tudo se encaixar e funcionar.
    Não me culpo por ser assim, pelo contrário, me encho de orgulho sempre que me sinto triste, eu sou incrível, sou a melhor pessoa que passou na vida de alguém que inevitavelmente me machucou e não parou para me ajudar a me curar. A vida tem dessas e só assim damos continuidade nos aprendizados.
    Agora é hora de me curar novamente e abraçar minha nova versão, mais forte, mais perspicaz, mais amorosa, mas que aprendeu que ser prioridade na própria vida é indispensável. Um ciclo se encerra para que outro melhor comece, nunca duvidei de mim mesma. Eu sou a protagonista da minha história!

16 de junho de 2019

Crise dos vinte e poucos


   Escrevo esse texto com a intensão de desabar e colocar em palavras tudo que virou um bolo dentro de mim e que vem pesando minha mente. Parece ótima a ideia de um lugar para escrever sobre minhas aflições, talvez alguém se identifique, me entenda e tenha algo de bom para me dizer.
   Cheguei na crise dos vinte e poucos, nunca pensei que passaria por esse momento na transição dos 25 pros 26, geralmente, segundo meus amigos, ela acontece por volta dos 23, mas aos 23 a vida era só festa pra mim. Não pensava em estudar, trabalhava e gastava todo o dinheiro com farra. Quem sabe seja a crise da proximidade dos 30, espero algum dia entender o propósito de tudo isso.
   Esses dias me peguei pensando em como minha vida mudou esse ano, coisas que eu planejei ficaram distantes demais de alcançar e comecei a me contentar com o que era possível. O sonho de cursar Direito ficou economicamente impossível, mas o curso de Letras estava totalmente pra mim, em todos os aspectos, assim como eu estava pra ele. A vida deu uma volta e comecei a amar isso, é como se peças dispersas começassem a se encaixar. Depois de ter passado pela fase do "foda-se" onde eu não me importava com nada, a fase do crescimento me abraçou e começou a clarear meus pensamentos, mas agora, nesse momento, me sinto beirando uma crise.
   É normal que planos deem errado e que dias ruins sejam mais constantes que dias bons, afinal dias ruins também fazem parte de uma vida boa, e apesar de enfrentar vários problemas sérios, principalmente em família, eu entendi que coisas ruins precisariam acontecer para que as boas fossem valorizadas. Me encontro em um momento onde me pergunto sempre se estou sendo uma boa pessoa, com minha família, meus amigos, nos estudos que só estão começando e principalmente comigo mesma.
   Nesse processo de amor próprio comecei cortando amizades que me sugavam, foi uma caminhada lenta, no começo era difícil, mas dei o primeiro passo pra me sentir livre e hoje entendo que foi para o melhor. Sinto falta de bons momentos que vivi com essas pessoas, mas sei que eles não voltam e a pessoa que os viveu comigo passou e passa por constantes mudanças e já não é mais a mesma. Diante de tudo isso venho me questionando sobre os vários caminhos que sempre temos como opção para seguir e o porquê escolhemos um ao invés do outro.
   Vi pessoas seguindo suas vidas das mais variadas formas, e o caminho que eu escolhi me deu visão de crescimento e melhoras, apesar de não ser o que eu queria, era o que eu precisava. Me sinto entrando em colapso, apesar de tudo estar caminhando bem. Talvez seja o medo que me faz acreditar que coisas ruins vão acontecer, mesmo seguindo firme com boas decisões. Essa semana passei por uma maré de coisas ruins que acredito estarem me fortalecendo e precedendo coisas boas que estão por vir, mas não deixo de acreditar que entrei na crise dos vinte e poucos, ou da proximidade dos trinta. É a fase que mais me questiono sobre toda e qualquer decisão que tomo, regada de certezas seguidas de arrependimentos que acabam virando certezas novamente.

12 de junho de 2016

Você é mulher, abandone esse pensamento machista


   É o seguinte, eu sou mulher, tenho 23 anos e boa parte desse tempo fui criada com homens, mas ultimamente tenho me questionado sobre várias atitudes que sempre tive e achei que eram normais, mas não são.
   Você é mulher e ri de piadas de estupro? Eu ria, pior, eu fazia piadas de estupro, eu, uma mulher, fazendo piadas de estupro. Você fala mal da roupa curta de outras mulheres? Eu falava, achava uma pouca vergonha as mini-saias os shorts curtos, as roupas apertadíssimas "nossa olha ali aquela menina andando praticamente pelada, só pode estar pedindo pra ser estuprada na rua e com razão", um absurdo, não é mesmo? Sim, um absurdo sem tamanho, um pensamento machista que me foi imposto desde que me entendo por gente "você deve se comportar, deve usar roupas que não mostrem muito do seu corpo ou vai ser vista como uma vagabunda" pois é, a roupa define o caráter, se você é mulher, estuda, trabalha o dia todo, cumpre todos seus compromissos e deveres, mas gosta de usar short curto ou um decote maior você acaba sendo uma vagabunda. A definição para a palavra "vagabunda" é a seguinte: "Pessoa que vive de maneira desocupada; que não possui ocupação; que não tem vontade de realizar suas tarefas. Que não trabalha ou não gosta de trabalhar". Queria saber qual a ligação entre essa palavra com uma mulher que gosta de roupas curtas e decotes, ou que gosta de transar por exemplo.
   Na nossa sociedade hoje em dia é errado uma mulher expressar seu desejo por sexo, os homens adoram mulheres desinibidas, mas somente pra se divertir, nunca pra levar a sério porque "ela quis só sexo, é uma vagabunda que só serve pra comer e vai dar pra geral e vou ficar com fama de corno", mulheres são traídas todos os dias, mais de uma vez pelo mesmo homem e isso não é visto como errado, nunca, na verdade é exaltado, a mulher sempre sai como a errada que traí e merece acabar sozinha e o homem como o foda que pode ter qualquer uma que quiser. A imagem que os homens fazem de mulheres que expressam seus desejos é péssima, mas o pior são mulheres julgando umas as outras, basta conhecer um cara e transar com ele no primeiro encontro, pronto, elas comentam entre si, espalham suas intimidades te ofendendo por aí e isso faz com que os homens se achem no direito de fazer o mesmo, de contar quais as mulheres eles já transaram, como foi, o que elas fizeram se vangloriando, e é nesse ponto que você percebe como o mundo é cheio de mulheres machistas que acham que é errado expressar seus desejos abertamente, usar roupas curtas e querer direitos iguais e respeito por sermos quem realmente somos independente de qualquer coisa.
   Vivemos em uma sociedade patriarcal onde o homem é imposto como o superior que tem a permissão para ser e fazer o que quiser e nós, mulheres, somos obrigadas a ser suas submissas simplesmente por sermos mulheres. Ganhamos menos fazendo o mesmo trabalho pois somos julgadas incompetentes, não podemos expressar nossos desejos porque uma mulher se expressando de maneira livre é totalmente errado e fora dos padrões. Se andamos na rua tarde da noite estamos pedindo para sofrer violência, sempre sendo julgadas, diminuídas e caladas entre homens e mulheres machistas. Mulheres devem se apoiar, ficar uma do lado da outra, se unir para formar uma só voz e gritar, exigir respeito e direitos iguais.
   O feminismo vem defendendo os direitos iguais entre os gêneros e deve sim ser apoiado, toda mulher deveria ler mais e se informar sobre os assuntos que estão por todos os lugares hoje em dia. Se informem também sobre as diferenças entre machismo, feminismo e femismo, pois muitas mulheres acham que o feminismo se trata da superioridade da mulher quando na verdade só queremos a igualdade, nada extremista e radical como algumas pessoas pregam por aí.
   Então, mulheres, abandonem esse pensamento machista e se unam, se amem em primeiro lugar e amem umas as outras, sem discriminação e com igualdade, façam umas pelas outras o que vocês gostariam que fizessem por vocês. Amem os homens da maneira correta, como iguais nunca como superiores, sejam sempre vocês mesmas, expressem seus desejos sem medo, sejam felizes de verdade.

5 de maio de 2015

O Diário de Uma Louca Gorda


   Você deve estar se perguntando "que coisa sem sentido é essa de diário de uma gorda?" pois bem, eu vou dizer o que é isso. Imagine o começo de uma história, mas não um começo como os outros, tipo "Era uma vez..." nada disso, algo mais para "Querido Diário, eu tenho 16 anos, peso 105 kg e moro em Lincolnshire. Meus interesses incluem música, fazer nada e encontrar um cara gato, risque isso, qualquer cara que apague meu fogo" e é nesse momento que você trava uma batalha interna entre continuar acompanhando a história ou deixar de lado, porque, bem, quem quer acompanhar a história de uma gorda de 16 anos desesperada pra transar? Eu digo para vocês quem quer acompanhar essa história, eu quero e, provavelmente, qualquer um que fique sabendo algo sobre My Mad Fat Diary vai querer também.
   Rachel Earl, a personagem principal, que é conhecida como Rae, é uma adolescente que passa por vários problemas, na maioria das vezes relacionados à sua aparência física e ao peso, e que acabou de sair de um hospital psiquiátrico depois de se automutilar. No inicio da série, que se passa nos anos 90, já temos de cara esse problema, que infelizmente muitas pessoas passam com mais frequência do que vocês podem imaginar. Voltando pra casa com sua mãe ela encontra, sem querer, sua antiga melhor amiga Chloe com a "gangue" que Rae nem imaginava que viria a se tornar seu grupo de amigos e, posteriormente, o pilar pra várias situações engraçadas, tristes e de superação.
   A história é extremamente tocante, você se apaixona, sofre, se envergonha e chora junto com as personagens. Você se sente parte daquilo, é como estar presente em cada momento e não importa quantas vezes você assista, serão sempre os mesmos sentimentos.
   São três temporadas, sim uma série bem curtinha com um impacto gigante em quem assiste, a primeira com seis episódios, a segunda com sete e a terceira com três, encerrando, assim, a história baseada nos verdadeiros diários de Rachel Earl "My Fat, Mad, Teenage Diary" e "My Madder, Fatter Diary" que, até onde eu sei, nenhuma editora brasileira publicou.
   Não posso dizer aqui que acompanhei desde o começo, em 2013, só me interessei realmente pela série a pouco tempo atrás, mas depois de ver e rever várias vezes posso dizer que é uma pena ter apenas três temporadas, mas que nessas três a história me pareceu estar completa e muito bem contada, apesar de não ter lido os livros para fazer a comparação.
   Espero que vocês assistam, que se apaixonem e tirem coisas ótimas dessa série para levar pra vida, acreditem, é uma série tocante, eu mesma me vi em várias situações que a Rae passou, senti o mesmo medo que ela sentia, a vergonha por causa do corpo, os apelidinhos ridículos, os problemas com comida, principalmente a vergonha de comer na frente de outras pessoas, a vontade de se trancar em casa e não sair pra nada, porque se você sair todos vão te olhar na rua como se você fosse de outro mundo. É uma série que ensina muito sobre amor próprio e empatia, vale a pena cada minuto.

Confira abaixo uma foto da verdadeira Rachel Earl nos tempos de escola e outra da atriz Sharon Rooney que interpreta a Rae na série.


(Rachel Earl)                                     (Sharon Rooney)
  

14 de setembro de 2014

Sobre mudanças


   Não é engraçado como hoje estamos vivendo de um jeito e amanhã tudo muda? É completamente estranho se acostumar com algo e pensar que nunca vai ser diferente, que não há outras maneiras de fazer determinada coisa e de uma hora pra outra você é obrigado a descobrir outro modo de agir. Eu, particularmente, faço parte do grupo de pessoas que odeiam qualquer tipo de mudança, ter que acordar mais cedo beira a insanidade, porque me acostumei a acordar tarde. Hábitos, hábitos, hábitos, não uma rotina, mas hábitos horríveis que são quase impossíveis de mudar.
   Você se acostuma com as pessoas, as conversas, as risadas sem graça, o compromisso forçado, a falta de prazer e se obriga a lidar com tudo fingindo uma certa alegria, você não é mais você depois que se acomoda com a situação, seus hábitos são sempre os mesmos, sua felicidade é algo mecânico e sem vida, coisas novas te assustam e tudo que você mais deseja é que nada mude porque, pra você, mudar é o fim do mundo. Acredite, mudanças fazem bem, mudanças revivem sentimentos verdadeiros já a muito tempo esquecidos, o frio na barriga e a insegurança de se conhecer alguém novo, de saber todos seus defeitos, qualidades e gostos, o sorriso sincero e a gargalhada feliz que novas experiências trazem é viciante. Estar com alguém novo ou criar novas situações com velhas pessoas é reconfortante, sair do marasmo e dos hábitos de sempre te faz ter vontade de viver outras coisas, de se arriscar mais, de ser várias pessoas, mas sem deixar de ser você mesmo.
   Mas, nem todo tipo de mudança faz bem, não seja vulnerável, não se deixe influenciar, não viva sendo alguém que você não é, não se diminua por ninguém, preserve seus princípios, tenha ideias próprias, seja autentico. A vida não é um jogo de sorte, desde o momento que nascemos estamos vivendo aquilo que devemos viver, tudo pode dar errado da mesma maneira que tudo pode dar certo, você faz suas escolhas, não deixe que ninguém decida nada por você, seja sua própria mudança, mesmo que ninguém note, faça por você. Viva sua tristeza intensamente pra que sua alegria se multiplique por dois depois que a maré ruim passar, seja o centro das suas atenções, não coloque ninguém antes de você. Egoísmo? Talvez sim, mas se não fizermos coisas por nós mesmos quem vai fazer? Ninguém pode viver por nós, precisamos abraçar cada momento, cada pequena mudança, precisamos fazer nossa própria história e mudar o mundo, mesmo que seja o nosso mundo particular.